Essa não é uma questão nova, há uns quatro anos um grande nome da cena House já levantava essa questão publicamente:
“Por que os DJs não produtores se obrigam a fazer álbuns? Por quê? É a razão pela qual há tantas porcarias medíocres lá fora! É engraçado como um novo DJ se chama remixer / produtor sem sequer fazer um álbum. Mas, infelizmente, os DJs são “obrigados” a ter um histórico de álbuns para serem reconhecidos e conseguirem shows. Que farsa! Há muitos não-DJs sendo pagos apenas porque fizeram um álbum, não porque são bons DJs. A maioria é uma porcaria! Não é possível reproduzir além de seu set programado. Duh! E os verdadeiros DJs que não se importam ou não precisam fazer álbuns são os que estão sofrendo. O que aconteceu com “a arte”? Alguém se importa? Obviamente não! Vergonha. ”- David Morales
Bem, os anos se passaram e essa ‘cobrança” só aumentou.
Alguns dizem que a indústria dita essa regra: “você só terá sucesso como DJ se também vender música!”
Ao mesmo tempo, com a popularidade que a música eletrônica alcançou e o acesso muito mais rápido e fácil às músicas, através de tantas plataformas digitais, o grande público passou a saber quem são os produtores das suas tracks favoritas. Sendo assim, os clubs/festivais de musica eletrônica ficaram numa certa “saia justa” pois, para atrair público, precisariam de um line up recheado de produtores de sucesso.
Atualmente as pessoas sabem quem são os artistas da cena eletrônica que gostariam de ver tocando. E não importa a técnica de mixagem, elas não sabem exatamente o que isso significa!
Dito isso, esclareçamos um ponto fundamental dessas duas carreiras, DJ e Produtor:
para cada uma dessas categorias artísticas são necessárias habilidades totalmente diferentes, e ser bom em uma não significa ser bom na outra. São duas formas de arte diferentes.
O DJ profissional precisa de um talento específico para escolher as tracks certas e tocá-las no momento perfeito. Ele tem que ser capaz de misturar duas ou mais músicas ao mesmo tempo, sem que o público perceba essa transição, mantendo a pista num estado de excitação contínuo. Ele deve criar uma atmosfera onde cada uma das músicas escolhidas brilhem, explodam nos corações dos que dançam incansáveis!
Muito produtores não são bons DJs, assim como o contrário também é totalmente verdadeiro. E existem aqueles que são bons em ambas.
Mas com essa “nova” exigência da indústria, os DJs tomaram rumos diferentes: alguns se frustraram porque queriam apenas tocar suas tracks favoritas, alguns resolveram dar um passo à frente e buscar o conhecimento que lhes permitisse produzir suas próprias músicas, e outros simplesmente contrataram os famosos “Ghost producers”. Cada qual com suas crenças, limitações e ambições diferentes.
Confesso que eu mesma já “sofri” essa cobrança de alguns dos meus agentes: “Van, já existem muitos DJs no mercado, se você quer se destacar, precisa dar uma passo à frente e produzir suas músicas.”
Aprender a produzir requer bastante tempo e dedicação, e escolher esse caminho não é garantia de nada. As pessoas precisam amar a música que você produz, você precisa de dinheiro pra investir no marketing pessoal e no que você está produzindo. Precisa dos contatos certos e de algumas portas abertas.
A verdade é que a tecnologia obriga a todos a reinventarem-se, porque o acesso às ferramentas aqueceu o mercado, e qualquer um com um computador e os softwares certos pode ser DJ.
Antigamente DJ’s tocavam durante 6-12 horas e não era incomum caras como tINI e Marco Carola fazerem sets de 30 horas sem sessar.
A grande sacada era o arsenal que cada DJ preparava para suas gigs, sempre com centenas de tracks nunca antes escutadas e, na maioria das vezes, inacessíveis ao grande público.
Eram praticamente deuses, sempre com as melhores e mais obscuras músicas do mercado.
Isso muito antes do “Shazan”, DJs dos anos 70 a 90 eram quem ditavam as regras.
Com esse aquecimento no mercado e tantos DJs surgindo, tivemos uma queda na qualidade da técnica apresentada, line ups cada vez mais extensos e sets cada vez mais curtos. E a cada dia mais DJs se tornando obsoletos.
Foi então que surgiu essa demanda por DJs/Produtores, seria uma forma de separar o “joio do trigo”.
E aí mais uma vez os avanços tecnológicos batem à nossa porta, existem cada dia mais softwares para produzir música e essa nova geração de DJs/Produtores normalmente começa produzindo as suas próprias, sem nunca ter se apresentado como DJ.
Na minha opinião, a responsabilidade por preservar a “cultura DJ” é dos próprios artistas, que não desenvolveram novas habilidades para se manterem num mercado mais tecnológico.
Que usam as novas ferramentas criadas pela indústria de softwares e “equipos”, sem criarem novos desafios pra si mesmos durante a apresentação. Os acomodados que se acostumaram com a playlist fácil, aquela que tem certeza que funcionará sempre, e o tal do “beat matching”.
Acredito, sim, que existe espaço para todos (os bons)!
O DJ se tornou um astro e, hoje, precisa saber muito mais do que mixar bem, tem que ser muito presente nas redes sociais, precisa de um certo talento como “blogueiro”, tem que criar uma identidade de estilo/opinião, construir um network forte.
Os tempos mudaram, meus amigos! Para fazer parte desse “game”, você precisa ser completo e produzir agora faz parte.
Se você não é um DJ que toca de “cabeça pra baixo”, que faz coisas que nem um outro faz, então você precisa produzir sim.
Sua música tem que ser boa e levar você o mais longe possível, até que as pessoas queiram te ver nas cabines…
Mas, se você começou produzindo, não se preocupe, se você não souber tocar, tudo bem, a maioria não vai perceber! (risos)
A demanda hoje é essa, quer DJs se frustrem ou não, cabe a cada um seguir seu caminho, decidir o que faz vibrar seu coração e lutar por isso.
“Nunca desista dos seus sonhos.” #DJLIFE 😉